Cinema e Série

Duas opiniões, Festival do Rio: In-I in Motion de Juliette Binoche

Duas opiniões de duas cinéfilas no Festival do Rio sobre In-I in Motion de Juliette Binoche

In i in Motion - Juliette Binoche - Festival do Rio

Crédito: Festival do Rio

Por Mariana, Smash Coletivo

Quando a Arte Dói e Encanta: minha experiência com In-I in Motion

Não escrevo aqui como crítica de cinema, e sim como espectadora — daquelas que se deixam atravessar pela arte. Meu parâmetro não é técnico, é sensorial: o que me prende é aquilo que mexe comigo, que me faz esquecer o tempo e sentir algo real.

Mesmo numa sala compacta e na primeira fileira da sessão, com o pescoço doendo (porque, convenhamos, a prioridade era ver de pertinho a diva Juliette Binoche), o filme me tocou de verdade e me trouxe aquele sentimento ambíguo do que é fazer arte: paixão e sofrimento ao mesmo tempo.

In-I in Motion traz dois filmes em um só: documentário e espetáculo pronto. O documentário em si é mais um registro do processo criativo, sem uma estrutura concatenada.

Mas, mesmo assim, me senti nos bastidores daquele processo, olhando pela fresta a transformação de um material do zero até uma peça super inventiva e emotiva.

Pelo tema, eu jurava que nada poderia me surpreender. Afinal, as fases de um romance — começo, meio e fim — já foram vistas em inúmeras peças e filmes. Mas eu me surpreendi com o resultado final de tanta entrega da atriz e do coreógrafo e dançarino Akram Khan.

E não é porque sou fã da Binoche; eu me conheço quando não gosto de um filme. Meu incômodo na sessão foi mais pela curta distância da tela do que pela experiência do filme em si.

Mesmo com a repetição das cenas no documentário, no espetáculo todo montado essas cenas parecem ter ganhado um novo significado. A criatividade dos movimentos e o uso de uma parede vermelha de forma versátil me fizeram ver que o mesmo pode ser reinterpretado de maneiras completamente novas.

Acho a Juliette Binoche fantástica porque ela traz verdade e autenticidade para seus personagens. A atriz some, e a personagem toma o palco principal. Nesse show foi o mesmo. Tanto ela quanto seu parceiro trazem tanta verdade que cheguei a ficar com lágrimas nos olhos em algumas partes.

Parece que a tela, no fundo escuro, aflora as emoções. Não há distrações. Por isso, o cinema é tão importante para a experiência de assistir a um filme na sua totalidade: é uma sala que te deixa completamente isolada de tudo, mesmo que haja alguém ao seu lado. Há filmes que me provocam uma catarse absurda, e o In-I in Motion me fez sentir dessa forma, mesmo com seus 2h52 de duração.

Juliette, não fiquei entediada em nenhum momento do seu filme. A verdade é que o longa deixou minha cabeça a mil para criar, criar e criar — cada vez mais. Somos seres criadores, como ela mesma disse, e isso nos faz sentir vivos.

In-I in motion Juliette Binoche Festival do Rio

Crédito: Festival do Rio

Por Ludmilla, Pipoca Cricri

O que há dentro de você?
Quais sentimentos você permite emergir?
Quais são os “eus” que impulsionam suas ações?

“In I-In Motion” revela o árduo percurso de criação de um espetáculo conduzido pelo renomado coreógrafo de origem bengali, Akram Khan, em parceria com a incomparável Juliette Binoche.

Abraçando medos e ultrapassando limites, ambos se desafiam a explorar territórios desconhecidos: ela busca expressar-se por meio da dança; ele deseja expandir suas habilidades de atuação.

Essa fusão de grandes talentos, contudo, está longe de ser tarefa simples. Afinal, o objetivo não é somar virtuosismos individuais, mas criar algo novo, que transcenda aquilo que cada um já domina.

Criar exige abertura ao desconhecido. É permitir-se perder para, talvez, encontrar. É confrontar versões de si mesmo que, por vezes, desagradam. É lidar com o outro em um espaço compartilhado de invenção e intimidade. Esse processo implica despir-se de máscaras, desfazer bloqueios, abandonar zonas de conforto. Implica em uma posição de vulnerabilidade e é justamente dessa tensão que nascem tanto os atritos quanto as faíscas.

A arte manifesta-se como expressão, catarse e libertação.

Embora “In I-In Motion” não apresente claramente uma estrutura documental tradicional (aproximando-se mais de um registro de bastidores, com o espetáculo como produto final), a obra transborda arte, esforço, inspiração e superação.

No entrelaçamento dos “eus” forma-se um “nós” e essa amálgama mostra-se tão heterogênea quanto bela. Um encontro de diferenças que se mostram capazes de criar algo singular.