Cinema e Série
Feminismo de Sangue e Pele: O Cinema Inquietante de Julia Ducournau
A visceral representação do feminino nas obras de Julia Ducournau
A cineasta francesa Julia Ducournau é uma das diretoras mulheres mais provocativas e originais da atualidade, conhecida por explorar temas como o corpo, a identidade e o feminino de maneira intensa, brutal e profundamente simbólica.
Nascida em Paris, em 18 de novembro de 1983, Ducournau cresceu em um ambiente familiar ligado à medicina, o que, segundo ela mesma, influenciou sua curiosidade pelas transformações físicas e pelo corpo humano em suas obras. Sua mãe é ginecologista e o seu pai dermatologista.
Formada em roteiro pela prestigiada escola de cinema francesa La Fémis, estreou nos cinemas com o curta-metragem Junior (2011). O filme ganhou o Petit Rail d’Or no Festival de Cannes. Veja o curta abaixo, disponível no Youtube
Em 2012, Ducournau lançou o telefilme Mange, que acompanha uma bulímica em recuperação que busca vingança de seu algoz da faculdade. A diretora ganhou destaque internacional em 2016 com o longa Grave (Raw), um filme de terror e coming-of-age que acompanha a jornada de uma jovem estudante de veterinária, vegetariana, que descobre um lado instintivo e canibal ao entrar na universidade. O filme gerou polêmica em festivais por suas cenas fortes, mas também foi amplamente elogiado pela crítica, consolidando o nome da diretora no circuito internacional.

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Em 2012, Ducournau lançou o telefilme Mange, que acompanha uma bulímica em recuperação que busca vingança de seu algoz da faculdade. A diretora ganhou destaque internacional em 2016 com o longa Grave (Raw), um filme de terror e coming-of-age que acompanha a jornada de uma jovem estudante de veterinária, vegetariana, que descobre um lado instintivo e canibal ao entrar na universidade. O filme gerou polêmica em festivais por suas cenas fortes, mas também foi amplamente elogiado pela crítica, consolidando o nome da diretora no circuito internacional.

Still do filme | MUBI | Carole_Bethuel

Still do filme | MUBI | Carole_Bethuel
Julia Ducournau se destaca no cenário cinematográfico contemporâneo por sua abordagem intensa, simbólica e muitas vezes brutal do feminino. Em suas obras, o corpo da mulher não é apenas um objeto de contemplação ou desejo, mas um território de transformação, conflito e autodescoberta. A diretora francesa rompe com as representações tradicionais, explorando o feminino de maneira visceral, desconfortável e profundamente humana.
Desde seu premiado curta-metragem Junior até os longas Grave (Raw) e Titane, Ducournau constrói narrativas onde o corpo feminino sofre metamorfoses físicas e emocionais extremas. Essas mudanças não são apenas metáforas visuais, mas expressam com crueza questões sobre identidade, sexualidade, aceitação e os limites impostos pela sociedade.
O corpo, frequentemente retratado em situações de sangue, carne e transformação, reflete o processo interno das personagens. Em Grave, a protagonista vivencia o despertar da sexualidade e do desejo, em paralelo ao canibalismo, que simboliza uma ruptura radical com padrões e tabus. Já em Titane, Ducournau aprofunda a discussão ao fundir o corpo humano com o metálico, numa visão futurista e perturbadora sobre gênero, maternidade e pertencimento.
Ao trazer o grotesco e o visceral como parte da experiência feminina, Ducournau desafia o espectador a encarar a complexidade da mulher além de estereótipos. Sua filmografia não suaviza o desconforto, mas o utiliza como ferramenta para questionar padrões e expor as dores, violências e potências do feminino em sua forma mais crua e autêntica.
Assim, Julia Ducournau consolida uma estética única e corajosa, onde o feminino se revela em carne viva — frágil, feroz e incontrolável.